Um passeio bate e volta em Bento Gonçalves
Localizada na Serra Gaúcha, a cidade de Bento Gonçalves, é um verdadeiro – mas não clichê – roteiro de charme. Diferentemente de Gramado, cidade bem próxima e, definitivamente, muito mais conhecida, Bento Gonçalves tem alma: nada ali é projetado para turistas, apesar de contar com uma excelente infraestrutura. Lá tudo foi acontecendo naturalmente e, por isso, o roteiro é tão charmoso.
O portal de entrada já anuncia: você está entrando no mundo do vinho. A cidade começou a ficar famosa pela uva e pelo vinho e, tudo ali, respira e inspira estes produtos: os hotéis, os restaurantes, as vinícolas, os passeios. É uma cidade autêntica. Visitei a cidade em junho, no outono, e tinha chovido demais nas semanas que antecederam o passeio.
O céu desta estação do ano é o meu preferido e, mesmo depois de tanta chuva, o sol reinava, lá no alto, brilhando dourado em meio a tanto azul. A grama estava bem verdinha, apesar de um pouco machucada pela chuva. Não é estação de colheita das uvas, que ocorre nos meses de verão e, portanto, as parreiras estavam secas. Ainda assim, parte boa da chuva, o cheiro da terra molhada querendo secar deixou tudo ainda mais romântico. Meus olhos pareciam uma câmera e esse cenário era o meu retrato: vou tentar descrevê-lo.
Fui num sábado, saindo de Criciúma (SC), bem cedinho e voltei no domingo, ao final da tarde. O passeio é bem agradável, com paisagens muito lindas na subida da serra.
A cidade conta com uma variedade enorme de hotéis, de todos os preços. Tem o SPA do Vinho, um dos mais conhecidos, dentro da propriedade da Miolo, e administrado pela rede Marriot. Um verdadeiro hotel de luxo. Mas as opções são infinitas. Fiquei num hotel bem antigo, provavelmente um dos primeiros que receberam os turistas, bem no centro da cidade.
A hospedagem no centro requer um carro, pois os passeios principais, sem sombra de dúvidas, são as visitas às vinícolas e plantações, para degustações – de vinho e comidinhas tipicamente italianas –, um pouco mais afastadas do centro da cidade, nas famosas Via Trento e RS-444, mais conhecida como Vale dos Vinhedos.
Após deixar as coisas no quarto do hotel, a primeira parada foi no Miolo Wine Garden: um gramadão, com comidinhas e bebidinhas, localizado na propriedade da produtora de vinhos Miolo, assim como o conhecido hotel Spa do Vinho, uma das vinícolas mais conhecidas, com certeza.
Logo na entrada, a gente já fica impressionada com a arquitetura dos casarões que abrigam a fábrica, escritórios e demais estruturas que compõem a propriedade.
Sem fazer nada, sentada numa mesinha, sobre a grama úmida e gelada e com uma taça de vinho Lote 43, o nome e número do terreno da família, um dos vinhos mais importantes – e deliciosos – da carta, curti o dia. Saboreei aquelas horas, feliz. Escolhi uma tábua bem rústica, de madeira, com queijos, petiscos e geleias: estava montado um real banquete. Fazia frio e o vento era tão gelado que cortava.
Quando a grama está seca, é possível estender uma toalha e comer no chão, em pleno contato com a natureza, rodeada de almofadas.
Dali, segui para a visita e degustação na mesma vinícola – e o valor do ingresso, em torno de R$30, converte-se em consumação na lojinha ao final da aula. E que aula! A gente acaba aprendendo um pouco os rituais do vinho, sabores, aromas e, principalmente, se a gente gosta ou não, que é o que importa.
Acabando este passeio, que durou bastante tempo, segui para o hotel, pois iria jantar num bistrô, lá no centro da cidade, bem charmosinho e mais moderno, um pouco fora do roteiro já conhecido da cidade, chamado Café com Arte. Lá jantei um risoto e acabei, por indicação do proprietário, conhecendo um vinho de outra vinícola local, com conceito purista, a Lídio Carraro – e me apaixonei.
A paixão foi tanta que, no domingo, corri para conhecer a casa. A Lídio Carraro fica numa casa e empresa bem familiares, completamente diferente do ambiente da Miolo, onde somos atendidos pelos próprios donos da casa e conhecemos seu conceito purista, em que o solo é manuseado para conferir um autêntico sabor ao produto.
São vinhos deliciosos, com qualidade reconhecida no mundo todo e, segundo soube, que participam de adegas importantes, como a da rainha da Inglaterra.
Os passeios e visitas costumam demorar um pouco, mas, como mencionei lá no comecinho, é assim mesmo. Bento Gonçalves possui duas vias repletas de vinícolas e a gente pode ir entrando de casa em casa. Lá é isto que se faz – ao menos foi isso que eu fiz, e é o que eu recomendo. Curtir a natureza, os produtos regionais, ir sozinha, com amigos, namorado.
Deveria ser parada obrigatória na listinha de viagens de todo mundo – sem contar que é tão pertinho. Vamos valorizar nossa linda e rica região?