Dicas de Viagem para Chapada dos Veadeiros - Parte 3
Depois de uma pausa para retomar o fôlego após tantas trilhas e cachoeiras, vamos seguir juntos rumo aos últimos dias na Chapada dos Veadeiros?
O dia 3 de setembro começou especial pra mim, foi o dia que completei meus 30 anos e fui à Chapada dos Veadeiros para comemorar, com uma amiga. Acordei com os passarinhos de sempre cantando desde cedinho, música da Xuxa, cristal de presente, balão alternativo e vela feita de palo santo, o incenso que afasta as energias ruins.
Guardamos o dia para visitar a cachoeira mais linda, segundo nossas pesquisas, para que fosse bem especial. Teríamos que sair cedo, pois a viagem para Cavalcante, outra cidade, duraria duas horas, além de ter horário e número de visitantes limitados por dia.
Adivinhem o que aconteceu? O pneu do nosso carro estava furado. Nossos vizinhos de cabana nos avisaram e os meninos da manutenção do hotel fizeram a força para trocar pelo reserva. Foi uma manhã para concluir que nem tudo sai conforme o planejado.
Seguimos para a borracharia, mas não sem antes o pneu furado cair no meio da estrada de chão da Vila de São Jorge, deserta àquela hora, a não ser por um senhor, tipicamente sertanejo, usando chapéu, camisa, calça e sandália, que nos ajudou no resgate da roda.
Já falei que dessa viagem trouxe comigo a importância do simples e, naquele momento, tive que trabalhar a frustração de me achar (des)importante: justo no dia do meu aniversário?
O momento presente era aquele, não tinha o que fazer: passando calor na borracharia da cidade. Rindo, contudo. Refletindo, trocando ideias, pensando sobre a vida.
Perdemos a oportunidade de visitar a cachoeira mais linda, mas ainda tentamos visitar outra. Dizem que a de Santa Bárbara, esta que não conseguimos visitar, representava o sagrado feminino. Assim, tentamos mudar a rota para conhecer a dos Couros, que representaria o sagrado masculino.
Quem disse que a encontramos? Claro que não. O que me achei de "importante" em ter vivido tanta coisa inesperada "justo no dia do meu aniversário" foi o mesmo tanto que resolvi, realmente, me dar de presente o luxo: naquele dia, não fizemos nada, além de beber vinho na beira da piscina do hotel. A tarde toda. Um aniversário feliz!
Dia 4 de setembro, então, foi o dia da Santa Bárbara, essa cachoeira que foi uma das coisas mais lindas (por enquanto) que já vi na vida. Partimos rumo à cidade de Cavalcante, também no estado de Goías, a uma hora de Alto Paraíso. Para fazer esse passeio, é obrigatória a contratação de um guia, pois a atração fica localizada dentro da comunidade quilombola Kalunga. Os quilombos são aquelas áreas, no meio do mato, para onde corriam os escravos fugidos da escravidão.
Chegando em Cavalcante, contratamos o guia diretamente no Centro de Atendimento ao Turista, e pagamos R$ 120 pelo serviço (dividido em 2 pessoas, como estávamos, deu R$ 60 por pessoa) - vale ressaltar que eles não recebem nenhum benefício ou auxílio do governo, apesar de serem credenciados. A região toda, apesar da magnitude da beleza natural, é extremamente pobre - e isso é muito triste.
Foi mais uma hora de viagem até a comunidade Kalunga. Chegando lá, temos que fazer o credenciamento para visitação e pagar o ingresso, R$ 30 por pessoa - eles aceitam cartão. Há uma loja de produtos típicos, onde pude comprar baunilha do cerrado, um produto que está tomando proporções gigantescas, graças ao empenho de Alex Atala, o famoso chef brasileiro, junto à comunidade. Você também pode usar o banheiro antes de seguir para a cachoeira.
Vale lembrar que estes valores deram acesso às cachoeiras de Santa Bárbara e Capivara. As trilhas são super simples e rápidas e a recompensa é sem tamanho.
Sobre o horário de visitação e permanência: a gente só pode ficar uma hora na cachoeira de Santa Bárbara, para manter a preservação do local. Achei super válido e importante, considerando a fragilidade da natureza. Como a data da nossa viagem era pré feriado da independência, não estava lotada. O guia nos contou que, em épocas de feriado, tem gente que nem consegue visitar, pois há um número de visitas limitado por dia. Além disso, todos têm de deixar o local às 17h.
Deixamos o local por volta das 14h e, depois da Santa Bárbara, com a água (não tão) gelada mais azul que já vi, seguimos rumo a das Capivaras, num outro caminho, cujo trajeto é feito de carro.
Outra trilha e outra cachoeira: valeu muito a pena, também. Ali não mergulhei, mas fiquei algum tempo parada contemplando o fluxo da queda d'água. Emocionei, agradeci e chorei. A vida é um fluxo sem fim, um devir.
O Google traduz "devir" como "substantivo masculino. FILOSOFIA: fluxo permanente, movimento ininterrupto, atuante como uma lei geral do universo, que dissolve, cria e transforma todas as realidades existentes; devenir, vir a ser."
Hora de ir embora do local, arrumar as malas e esperar o dia de ir embora chegar. Na estrada, ainda conseguimos parar para tirar umas fotos. Ali, no caminho que pegávamos todos os dias, fica o Jardim de Maytrea, mais um local que, para os místicos, é um portal sagrado. Há muitas histórias sobre o jardim, e, a que mais me chamou a atenção, foi quando, nos anos 80, realizado um festival de rock em Alto Paraíso, os hippies que visitaram o local passaram a dizer que visualizaram um portal de acesso para o plano etéreo, ali. Por lá também tem muito ocultismo.
Tirando as dicas sobre o nosso próprio roteiro, preciso dizer que achei o nosso tempo de permanência no local excelente. Nunca dá para fazer e visitar tudo, quando viajamos, então é importante embarcar sem essa ansiedade na mala.
Conseguimos visitar tudo que planejamos, mesmo com um pneu furado no meio do caminho. Ficamos 6 noites e recomendo esse tempo, sim. Muita gente vai só para feriados emendados, então, um tempinho a mais, te proporciona mais.
Falando em feriado, nosso guia nos disse que há muita gente, cachoeiras sempre lotadas e essa, cuja entrada tem limitação, por exemplo, corre o risco de ficar sem visitar. Atente-se para as datas.
Na época em que fomos, fez frio à noite, principalmente se considerarmos o calor intenso durante o dia. Isso, pelo que pesquisei, faz parte do próprio bioma e geografia locais. Por ser uma chapada, ou seja, um local rodeado por paredões, estamos num buraco e, como dá para recordar das aulas de física, o ar frio desce, ficando preso ali. Portanto, leve alguns casaquinhos não muito quentes.
O atendimento ao turista nos CATs (Centro de Atendimento ao Turista) que visitamos foram todos excelentes. O pessoal é muito bem preparado e educado. Não hesite em pedir ajuda.
Atentar para o horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais. Não vá achando que o comércio lá - especialmente os restaurantes - ficam abertos do jeito que estamos acostumados. Cada um tem um horário diferente, então nem posso dar as dicas. Pesquise antes de pegar o carro para visitá-los, pois eles podem estar fechados.
Outros restaurantes que visitamos e gostamos: Vendinha 1961, no centro de Alto Paraíso; Cravo e Canela, um ótimo vegetariano, também no centro; Pizzaria Lua Nova, na própria Vila de São Jorge, onde experimentamos uma pizza com castanha de baru, uma delícia.
A Chapada dos Veadeiros toda conta com muitas histórias místicas e, o que eu recomendo, é só sentir. Qualquer coisa, deixar os pelinhos do corpo arrepiarem-se à vontade. Sua vontade, independentemente do que te contam. Às vezes, uma simples borboleta pode te causar esse efeito e não há nada mais místico do que isso.
E aí, o que achou do nosso roteiro? Você já foi? Se não, iria? Conta pra gente qual destino você gostaria de ver por aqui - e já deixe suas dicas. Quem sabe a gente não consegue embarcar pra ver de pertinho?