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Pelo fim da Greve de Amor

Nem só de falta de gasolina vive o homem. Estamos esquecendo de abastecer nossos tanques de amor!

Hey, amigxs, senta aqui e lê este texto, vou te contar uma história sobre a greve dos caminhoneiros no Brasil.

Durante toda esta semana, muitas notícias, relatos, textos e vídeos compartilhados falavam sobre sentimento de medo, escassez, raiva e indignação. São momentos difíceis para a política brasileira (e talvez para a política do mundo todo). É como se estivéssemos passando por um colapso universal que nos mostra aquela sujeira escondida debaixo do tapete por muito tempo. Para muitos, isso pode significar o fim dos tempos. Com certeza você tem um tio ou uma tia que deve estar dizendo nos encontros de família “Esse mundo não tem mais jeito!”. A impressão que muitos estão tendo é que o caos nos levará para o abismo sem volta não só na economia, mas no modo como temos lidado com todas as nossas relações (financeiras, de trabalho, amorosas, familiares, com nosso corpo, e por aí vai). Mas já parou para pensar que toda boa faxina começa por movimentar a sujeira mais impregnada da sua casa? E depois de parar de adiar essa boa limpeza, como você se sente ao terminar o serviço e ver a casa limpa? Tente pensar que depois da sujeira e trabalho pesado, vem o descanso e sensação de alívio aliado a um clima de “que bom que fizemos isso logo”. O convite aqui é para pensarmos na crise como um momento de faxina na casa.

Nesses dias, bem no primeiro dia de paralisação, quando o combustível ainda não tinha acabado para a maioria, eu estava saindo do mercado, quando vi a seguinte cena: um carro dobrando a esquina e se deparando com uma pessoa idosa de cadeira de rodas elétrica que tentava, com dificuldade, manobrar a mesma para também dobrar a esquina. Por não ter rampa na calçada, este senhor ficou “encurralado” em uma parte da rua, o que descontentou o motorista, que muito indignado abaixou o vidro de seu “super carro-ego” e gritou, xingou e por último disse que o senhor estava atrapalhando o trânsito. Isso me lembrou um pouco aquela música “construção” que fala do pedreiro que morreu na contramão atrapalhando o tráfego. A letra da canção fala sobre a invisibilidade de algumas pessoas na sociedade, mas fico até com receio de falar que ela foi composta por Chico Buarque, por que, infelizmente, movidos por este caos político, é possível que muitos vão achar, por eu ter citado o cantor, que este texto é esquerdista. Mas calma, não vai embora ainda, tenho coisinhas legais aqui para falar e não estou falando de direita e esquerda. O assunto aqui é mais sério que isso: é sobre amor.

Agora vamos a segunda parte da história. A cena do motorista xingando aquele senhor me chamou atenção não pela agressividade deste, mas principalmente pela resposta daquele que estava ali sendo agredido. No mesmo momento, com voz imponente, a imagem daquele homem impossibilitado de se movimentar cresceu diante dos meus olhos, pois ele gritou com tanta força que me assustou. Aos berros ele dizia que tinha uma arma e que daria um tiro na cara do motorista e iria matá-lo. Fiquei em choque. Romantizei a situação e quase estava indo em direção àquele velhinho para oferecer ajuda, mas a resposta dele foi tão agressiva quanto a do motorista e ali eu recuei, pois senti medo de me aproximar e vi que os dois estavam sintonizados, mesmo sem perceber, no mesmo sentimento: ódio. Percebi que os dois atiraram um no outro e presenciei uma troca de fogo agressiva, movida à munição das palavras.

Continuei caminhando impactada com o que vi e pensando: nem só de falta de gasolina vive o homem. Algumas pessoas estão esquecendo de abastecer seus tanques de amor. Se você observar bem, tem uma greve de amor silenciosa acontecendo há muito mais tempo que esta que acompanhamos esta semana. Perceba também com o que você tem sintonizado durante esta greve, você tem paralisado também? Anda com medo de ser amoroso com as pessoas? O que tem carregado na carga do seu caminhão? Alguém com raciocínio prático vai até pensar, não temos tempo para o amor! É preciso entender e estar ligado na economia do país. Concordo! Precisamos estar atentos. Mas como estaremos atentos ao mundo externo se mal temos dado conta de administrar os sentimentos internos? Como anda o seu governo de si? Sim, você também é um país! E nessa metáfora, muitos de nós estamos negligenciando nossas emoções de forma tão corrupta quanto em Brasília. Que tal encararmos uma faxina interna e fazer um governo mais ficha limpa, começando pela gente? Madre Tereza de Calcutá já dizia: “Se quiseres a paz mundial, vá para casa e ama os teus”. Acredite, a revolução é interna, não está nas ruas.

Se você leu até aqui e ainda acha que este é um texto de “mimimis” por falar de amor, esteja atento. Sem amor ao próximo ou a nós mesmos, não poderemos revolucionar nossa vida, quem dirá a política do país.

Fica então o convite para desbloquear suas vias principais e liberar sua carga de amor para as pessoas, desde as mais próximas até às que cruzam desconhecidas na rua. Sintonize com isso e ajude o FIM da greve de amor.

Texto: Elô da Rosa