O "Mundo Sombrio de Sabrina": magia negra, rituais e um suspense asfixiante.
Estreou na Netflix no último dia 26 uma repaginada série das aventuras da bruxa Sabrina, da famosa sitcom dos anos 90 estrelada por Melissa Joan Hart, que trazia a história de uma adolescente de 16 anos pertencente a uma família de bruxos e que tinha de controlar seus poderes passando por situações cômicas e embaraçosas. Adianto a vocês que, na nova série, uma das poucas características que nos lembram da primeira versão é o nome da personagem que continua o mesmo.
Nesta nova versão estrelada por Kiernan Shipka, a adolescente está prestes a passar por uma transição, com seu aniversário de 16 anos cada vez mais próximo e precisa tomar uma decisão que definirá sua vida para sempre: escolher viver à sombra do sangue bruxo da sua família ou ser uma mortal e viver entre os humanos, dado ao fato de ela ser filha de um bruxo com uma humana. A confusão mental na cabeça da jovem Sabrina Spellman norteia os primeiros episódios dessa série produzida pela Netflix.
Essa Sabrina, interpretada brilhantemente por Shipka, está completamente confusa com qual dos caminhos seguirá, tendo em vista que seu namorado Harvey Kinkle (Ross Lynck) e amor juvenil é mortal e, caso ela escolha o caminho das trevas, terá de deixar para sempre seu convívio com humanos, algo extremamente proibido na igreja da noite, religião das bruxas, mais uma das mudanças nesta versão da série. Aqui ficamos sabendo que seus poderes e suas crenças provém de, ninguém mais, ninguém menos que o próprio Diabo, aí já podemos ter uma noção do lado dark para que a série pende no decorrer dos episódios.
O que mais chama a atenção para “O mundo Sombrio de Sabrina” é como é explorada essa parte da religião e crença das bruxas no Diabo, rituais macabros, necromancia, feitiços em línguas mortas como o latim, exorcismos e a personificação de demônios existentes em diversas culturas do nosso mundo, são partes constantes e influentes no enredo desde o primeiro episódio.
As tias de Sabrina - Hilda e Zelda - já conhecidas da primeira versão, retornam com um ar totalmente diferente. Hilda, que é interpretada por Lucy Davis, traz um gostoso sotaque britânico ao seu personagem (para quem o aprecia, claro) e se refaz como uma personagem doce, excêntrica e que não mede esforços para ajudar quem quer que seja. Vamos conhecendo melhor Hilda ao longo da série, o que também acaba sendo um fato curioso é seu visível arrependimento em ter escolhido o mundo da bruxaria, quanto a isso, ela tenta aconselhar Sabrina para que escolha o que seu coração mandar, o que deixa Zelda, vivida por Miranda Otto (que dispensa qualquer apresentação), furiosa.
Zelda aqui é uma bruxa temente às regras da igreja da noite, rígida e que faz absolutamente de tudo para manter a tradição do sangue mágico dos Spellman, não aceita que Sabrina esteja dividida em relação à decisão de escolher o lado bruxo. Aqui vemos um visível rancor e ressentimento de sua falecida cunhada mortal, mãe de Sabrina, a quem Zelda culpa por deixar a menina em dúvida quanto a escolha que deverá fazer.
Outro agravante para a escolha de Sabrina é que seu pai, Edward Spellman, foi sumo sacerdote da igreja da noite (algo como um Papa das trevas) e um dos bruxos mais poderosos de seu tempo, porém um homem que contestou tradições milenares das bruxas e discordou de pensamentos do lorde das trevas, algo que Sabrina passa a possuir em semelhança com o pai ao longo dos episódios.
Uma série que, com certeza, dividirá opiniões e não agradará a gregos e troianos, mas, de qualquer forma, a Netflix está completamente de parabéns por apimentar essa nova versão com tanta maestria e nos prender à tela em todos os episódios, que não são repetitivos e sempre nos deixam com um gostinho de “quero mais”. Vale muito a pena!
Curiosidades e diferenças entre as duas versões:
-
O gato falante Salem, que nos anos 90 foi o principal conselheiro de Sabrina, volta nessa série como um "familiar", nome dado ao animal místico ligado a bruxa ou bruxo pela alma e serve como protetor, porém ele não fala, Sabrina apenas ouve seus pensamentos e os reproduz em cena. O cargo de conselheiro fica com um novo personagem que não existia anteriormente, o primo Ambrose, um bruxo que foi condenado à prisão domiciliar perpétua pela igreja da noite por tentar explodir o Vaticano;
-
Os pais da primeira Sabrina estão vivos e frequentemente a visitavam na casa das tias, já o bruxo Edward e a mortal Diana Spellman desta versão, morreram misteriosamente em um acidente de avião quando Sabrina ainda era bebê;
-
Os personagens secundários, o namorado mortal Harvey, bem como as amigas mortais Rosalind e Susie, possuem, através de seus antepassados, ligações diretas com o clã das bruxas, algo que não é explorado na primeira versão;
-
A relação direta com a magia negra, com Satã e a existência de clãs de bruxas não é pauta da primeira versão;
-
Em um dos melhores episódios da nova versão, Sabrina executa um exorcismo e invoca nomes de várias bruxas famosas da história, como Marie Laveau, Anna Bolena, Tituba e Mary Bradbury;
-
Uma das coisas que mais chama a atenção é como, em várias cenas, a câmera dá a impressão de estar projetando a imagem através de um prisma, as margens da tela ficam desfocadas e com um brilho místico, super inteligente.