Nesta Páscoa, vamos refletir?!

Há não muito tempo, quando éramos crianças, que ainda nãohaviam sido alcançadas pelos desafios da vida de gente grande, entendíamosa Páscoa como um dia gostoso, que marca a chegada do friozinho de outono,dos familiares para um almoço divertido, dos chocolates em suas formas deovos e coelhos, das surpresas e brincadeiras que envolvem a tradição.Depois de uns anos, somos convocados a refletir sobre o realsignificado desta data: a ressurreição de Cristo, aquele que, de acordo com oCristianismo, morreu injustamente e, após três dias, reviveu e foi-se juntar aDeus, o pai de todos nós, ensinando-nos que a vida é um presente divino eque, por vezes, sofreremos por julgamentos errôneos, mas que, se crermos emDeus e buscarmos seguir os passos de Jesus, seremos salvos.

Em todo esse processo de significação da Páscoa, a palavraressurreição é a que, hoje, ecoa no meu coração e me mobiliza a escrever estetexto. Tendemos, inevitavelmente, a limitar o significado das coisas à primeiraimpressão, à referência inicial que nos foi dada, ao primeiro exemplo que nosfoi demonstrado, ao “pé da letra”. Mas se expandirmos o conceito da palavraressurreição para além do literal, da morte-vida, poderemos entender que,durante a nossa vida, são muitas as mortes: dos desejos mais ousados, dossonhos mais “impossíveis”, dos sentimentos mais nobres, das capacidadesmais incríveis.

Quantas vezes você já teve que sepultar um desejo porque alguémlhe disse que era descabido? Quantos sonhos você precisou matar dentro de siporque a sociedade lhe desencorajou a realizá-los? Você se lembra de todosos momentos em que precisou sufocar suas emoções por medo de lhejulgarem se você as expusesse? E quanto às capacidades, você se recorda detodas aquelas que deixou de desenvolver por falta de tempo ou por excesso devergonha?

Neste tempo de reflexão e, consequentemente, de ressignificação,ressuscite o que, a contragosto, um dia, você teve que apagar em seu coração;o que, dolorosamente, certa vez, você que teve que enterrar ou queimar na suaimaginação. Desperte dentro de você aquela vontade antiga de cantar, de tocaralgum instrumento, de fazer aquele curso ou viajar para bem longe, de abrir umnegócio que é a sua cara...

Friedrich Nietzsche, filósofo tão conhecido especialmente porquestionar a existência de um deus maior, o Deus que a Páscoa nos lembraexistir, diz que “um homem precisa se queimar em suas próprias chamas parapoder renascer das cinzas”. A Páscoa nos convida justamente a isto: renascercom tudo aquilo que é nosso, que nos faz sentir que realmente estamos vivos,fazendo valer o tal presente divino, assim como Jesus Cristo o fez: comcoragem e fé.

Eu desejo a você que, nesta Páscoa, mais do que estar reunido coma família, trocando chocolates e relembrando o sacrifício de Jesus, vocêressuscite em você mesmo tudo aquilo que dá sentido a sua vida. Eu desejoque você RENASÇA.

Feliz Páscoa!